Acompanho um amadurecimento de
uma população em que achava que não iria viver para isso. E quem diria em meus
plenos 30 anos estou acompanhando esta evolução.
Desde meus estudos em História e
Geo-Política que escuto que a população foi às ruas buscar as Diretas já, que
muitos foram exilados pela ditadura por se expressar e ir contra este governo.
Nasci em 1982, onde o então
presidente João Figueiredo ainda dava o “golpe” atrasando a negociação com o
FMI para que não atrapalhasse as eleições governamentais.
E logo em 1983 começou o
movimento das diretas Já. Temos enraizados que este foi um movimento de grande
orgulho. Quebrando com uma Era de Militares eleitos pelo colégio eleitoral e
dando inicio ao voto direto.
Desde então com a Constituição promulgada
(1988) o Brasil tem vivido uma onda inerte e quase alheio à política. Onde
discutir política era quase proibido e que se você começasse a discutir iria
levar aquele suave tapa na boca de sua mãe ou olhares recriminando com o
chavão: “Política e Religião não se discutem”.
Então, era assim passamos de
Tancredo a Sarney e elegemos Collor. Começamos aí a quebrar um pouco dessa
inércia de opinião política. Em meios a denúncias de corrupção envolvendo o
ex-tesoureiro PC Farias. Umas grandes massas de jovens foram à rua, chamavam de
“Os Cara Pintadas”. O que cumulou em o então presidente Collor renunciasse e
posteriormente fosse julgado com a impugnação de seu mandato político, o impeachman, colocando seus direitos
políticos cassados pelos próximos oito anos.
Uma luz foi dada a população
brasileira. “Nos ainda temos voz”, e como, em minha opinião o processo aberto
do impeachman só foi consolidado
(leia-se votado no congresso) graças à pressão popular, já que o presidente já
havia renunciado.
Desde o movimento dos “Caras
Pintadas” a população voltou a uma inércia, a meu ver a de um período maior. Mesmo
quando trocamos o governo de Direita para Esquerda, não tivemos nenhuma sobra
de movimento que configurasse um pedido da população neste quesito. Mesmo assim
houve esta troca de partidos e de ideais.
Até que em 2013 esta inércia foi
quebrada. Começou com um movimento estudantil nas principais capitais que era
contra o aumento nas passagens de ônibus. Este movimento começou a tomar
adeptos pelo Brasil e pelo mundo. Tendo grande visibilidade e consequentemente
tendo novos adeptos após a forte repressão policial acontecida em São
Paulo. Passando de um movimento com uma
causa única (o aumento das passagens de ônibus) para um movimento de extrema
insatisfação com a violência policial, gastos públicos do governo com eventos
esportivos (Copa das Confederações e Copa do Mundo), insatisfação com os
serviços públicos, e com a corrupção. Este movimento ficou conhecido pelo
Brasil e pelo Mundo como “Não é apenas pelos 20 centavos” (os vinte centavos
era o valor que aumentou nas passagens de ônibus) ou “Manifestações de Julho”. O que rendeu algumas medidas paliativas do
governo chamado “Agenda Positiva” em que propôs para amenizar as manifestações
como: Tornar a corrupção como um crime hediondo, arquivar a PEC 37 (A PEC que definiria
como competência "privativa" da polícia as investigações criminais),
proibir o voto secreto aos políticos cassados por meio a irregularidade e
revogação dos preços das passagens de ônibus em várias cidades brasileiras.
Uma visão bem pessoal em conjunto
com o momento político e governamental diria que a população estava sedenta por
uma mudança brusca de realidade. Com toda
esta insatisfação que beirou a um quase boicote (quase boicote, pois houve
muitos que viraram as costas e que mesmo tendo o futebol como uma grande paixão
queria a justiça e não o descomunal investimento de infraestrutura em obras
quem em alguns locais serão des-utilizadas
gerando um elefante branco e não um promissor investimento) a uma das paixões
nacionais (A Copa do Mundo) escândalos relacionados à política como o “Mensalão”,
Queda de ministros numericamente expressiva, “CPI da Petrobras”, Governo ‘explicitamente’ dando ordens e
influenciando a taxa da inflação e o pior tendo o PIB decaindo progressivamente.
Todos estes fatores eram visíveis de que
algo deveria ser feito.
Não entrarei no mérito de que a
população brasileira avançou e deixou a faixa da pobreza. Pois não acredito que
mascarar a posse do cidadão seja um real fato de evolução. O poder de compra
aumentou, o IPI de eletrodomésticos e carros abaixou a zero o que induz o
consumismo, que aumenta a produção, gera empregos, movimentou a econômica positivamente
(mesmo com o governo mascarando, não tão mascarado, a taxa de inflação), mas
sem um real ganho destes e quando o IPI começou a voltar os empregos começaram
a se esvair, o poder de compra cair e a inflação... sem palavras.
Voltando a inércia quebrada, a
busca sedenta da população por respostas e mudanças positivas do governo para
com a população, deu inicio em 2014 uma caminhada eleitoral a presidência da
republica.
Entenda a visão geral das
eleições por um lado pessoal. Tínhamos três candidatos possíveis: Dilma
candidata a reeleição (teoricamente do partido de esquerda); Aécio Neves (do
partido de direita) e Eduardo Campos um político jovem e promissor que com sua
vice Marina Silva era o fator em que poderia dar uma chance a Aécio a disputar
o segundo turno.
Dilma Roussef uma ex-ministra da
Casa Civil, presa política e sucessora de Lula. Uma presidente pouco carismática,
pouco inteligente, que em minha opinião ganhou “na loteria” por estar na hora
certa e no local certo. Em uma reunião da cúpula do PT deviam estar pensando,
quem podemos colocar para substituir Lula? Ninguém tem o carisma, a lábia, a
voz rouca o dedinho a menos e a vivencia sindical que ele tem. Ai alguém apontou
e se pegarmos alguém que tenha uma vivencia chocante e que causa impacto? Eis
que Dilma grita: Eu já fui presa política!!! Pronto, a única que tinha algo
vivenciado a concorrer com o venerado Lula. Dilma o “Coração Valente”.
Aécio Neves, neto do primeiro
presidente e quase um mártir (por ter morrido antes de tomar posse) eleito
depois de uma era da ditadura militar. Um político nato (como Lula), lábia,
carisma e acima de tudo muito bem preparado. Com uma vantagem e uma
desvantagem: ser de Minas Gerais o segundo Colégio Eleitoral em que da uma
grande visibilidade perante o próprio Colégio e ao Brasil, porém pode
derruba-lo (como aconteceu nestas eleições).
Eduardo Campos, como Aécio e Lula
um político nato. Carismático, neto de governador, incrivelmente inteligente e
inovador não tinham chances de se eleger nestas eleições, mas com certeza tendo
uma boa orientação seria um grande nome para daqui duas eleições, talvez. Com apoio
de Marina Silva (a zebra das eleições de 2010 que levou as eleições serem
decididas no segundo turno entre Serra e Dilma). Eduardo tinha chances de
crescer, porém um acidente em meio à corrida eleitoral retirou-lhe a vida e seu
futuro promissor. Dando a Marina a chance de buscar mais uma vez ser a zebra.
Marina Silva, seringueira,
analfabeta com uma história de vida um tanto espetacular envolvendo miséria,
trabalho e superação. Não é tão carismática, não tem aparência que agrade e tem
uma posição firme quase que limitada e radical. Mas sem dúvida uma figura que
sabe o que quer. Inteligente e com posição consistente e sólida quanto aos seus
ideais. Assumiu o lugar de Campos para concorrer à presidência do Brasil. O que
segurou a frente de Dilma e Aécio durante quase toda campanha, mas acabou sendo
aquela que mais uma vez foi a responsável pela decisão em segundo turno.
Acredito que Marina teve seu público, já cativo desde as eleições de 2010,
aumentado devido a grande comoção nacional como causa à morte prematura de um
grande político e pai de família. De alguma forma ela não conseguir fidelizar
este público que migrou para Aécio.
Em meio a três polos políticos
que deteriam os olhos voltados em uma eleição, a inércia da população foi
novamente quebrada. Talvez por causa de ideais, ou a busca por mudanças ou simplesmente
inércia das redes sociais. Começou pela primeira vez a “liberdade política” a
toda população. O discurso político, o posicionamento, a defesas de ideias ou
ideais mesmo que cegos eram visíveis nas redes sociais, nas discussões dos
grupos de whatsapp, na mesa de um bar
ou nas reuniões de família. Resultando em até brigas.
Mas de uma forma geral, vejo esta
“liberdade política” como uma vertente boa da população, antes era quase que
proibido falar, pois recebíamos olharem fuziladores, pessoas falavam “Política
e Religião não se discute” e passávamos a ser politicamente imitadores do que
liamos ou escutávamos.
Esta liberdade e facilidade que
estamos temos graças às redes sociais vêm dado a sensação de liberdade as
pessoas em que (por qualquer que seja o motivo, sem entrar em méritos sociológicos
da questão) estão opinando, demonstrando e defendendo suas posições. A réplica
de reportagens, charges e memes ( um conceito, foto, vídeo,
pessoa ou fato que se populariza rapidamente pela rede). As discussões acaloradas, os posicionamentos por partidos,
ideais vêm mostrando uma população que é sim, politicamente ativa.
Acredito que temos muito que
crescer e amadurecer em meios a opiniões políticas e econômicas. Não acho que
estamos maduros o suficiente para discutir, pois ainda vivemos em um mundo quem
que o meio influencia as opiniões e, generalizando, não buscamos estudar e
entender a fundo cada matéria. A imprensa influencia, as notícias (muitas delas
falsas) são replicadas palavras por palavras como verdades absolutas. Este
fato, de acreditar e replicar a noticia sem verificar a veracidade, é algo que
temos muito que trabalhar e não apenas nos meios de assuntos políticos, mas de
tudo.
Porém fiquei incrivelmente feliz
por ter visto esta abertura acontecer. Ter uma população voltada para o debate
nas emissoras de TV, ver as discussões deste debate até mesmo os memes que surgiam destes, é algo
extremamente prazeroso. A busca por resposta as postagens que os amigos faziam
contra seu candidato o orgulho dos eleitores em colar o adesivo em carros e em
blusas é sensacional. E o melhor se configurou na espera dos resultados onde o
primeiro número divulgado era de um empate técnico com menos de 1% de diferença
dos candidatos. Começou a chover vivas e reclamações.
E o resultado veio como uma final
da Copa do Mundo, vivas e até foguetes foram escutados em comemoração enquanto
outros vaiavam, e demonstravam sua insatisfação em meio a vídeos, fotos, memes e textos. A satisfação ou insatisfação com o resultados
destas eleições foram puramente por uma insatisfação/satisfação de ideologias e
propostas políticas, mas no modo de amadurecimento em debates ganhou total
destaque. Mostrou para os candidatos que se eles forem espertos comecem suas
estratégias de campanha voltadas para a população, para as redes sociais e não para
seus partidos ou para públicos definidos. A rede social hoje igualou a
população. E através dela é possível agregar pontos a estratégias em que
envolve verdadeiramente os eleitores.
É um pouco contraditório o que
estou sentindo e qual seria o resultado das eleições para mim. Estou feliz sim,
com o amadurecimento da população em relação ao debate político, a abertura das
discussões, porém, talvez pela falta de compreensão global, de visão gerencial
e pelas muitas repetições como marionetes causadas pela influencia da mídia
(verdadeiras e falsas) vimos uma população extremamente separatista,
pre-conceituosa, injusta e um tanto cega.
Como foi dito acima, os
resultados das eleições 2014 deixou muitos satisfeitos e muitos insatisfeitos. É
claro, a população esta tecnicamente empatada. 50% feliz e outros 50% infeliz com
o resultado. Não devemos nem podemos falar que uma destas metades está errada
ou certa. Definitivamente a realidade de todo país não é única. Temos variações
não apenas geográficas, mas, climáticas e sociais. Temos três vertentes de
lideres (prefeitura, governamental e presidência) em quase todas as regiões em
que dentro de cada partido temos políticos bons e políticos ruins, temos ainda
o coronelismo embutido e isso não significa que uma região ou grupo de pessoas
sejam mais pobres, mais burros ou mais inteligentes, significa que em cada região
existem pessoas querendo viver e outras procurando sobreviver e que para isso
elas se agarram aos ideais (diferentes, errados ou certos) que lhe pareçam ser
mais assertivos que lhe permitam VIVER melhor e não apenas a SOBREVIVER às intempéries
existentes.
Enfim fechamos um ciclo desta
corrida eleitoral em que deixou um legado de amadurecimento mesmo que parcial
da população para política. Que este amadurecimento tenha uma curva exponencial
e que venha com consistência, profundidade e muito conhecimento para que eu
possa viver em um país que não é perfeito, mas que está fazendo o possível para
ser e assim para que meus filhos e netos possam continuar este legado, em busca
do viver melhor e da justiça. Em que a população tem voz e vez e que possamos
acreditar que a discussão é necessária e bem vinda. Discutir é divagar ideias,
é apresenta-las, dar consistência e muitas vezes mudar nosso pensamento. Não é
ser vira-folha é simplesmente ser maduro o suficiente para aceitar e entender o
outro, o diferente.